Criando Personagens
Personagens podem ser definidos de várias formas,
mas no fundo eles são apenas repositórios de características. Em outras
palavras, o que realmente importa no contexto do livro são as características
psicológicas dos personagens e como elas interagem umas com as outras; os
nomes, características físicas e backgrounds dos personagens são
meramente uma forma de expressar estas características para o leitor. Estas características, também chamadas de "modelos míticos" ou
"arquétipos", já foram listadas e catalogadas em diversos livros, e
sugiro fortemente as leituras que se aprofundam neste assunto, pois elas
"abrem os olhos" para detalhes que o autor iniciante muitas vezes não
se dá ao trabalho de observar.
Obviamente, estas "receitas de bolo"
servem apenas como uma base para começarmos a organizar nossas ideias, como um fermento para nossa
imaginação, e não como um "guia para criar personagens notáveis".
Uma vez que as características dos personagens e a
forma como elas interagirão estão definidas, aí sim começamos a pensar nos
personagens. Por exemplo, decidimos que nossas características serão
coragem, impetuosidade, sabedoria e alívio cômico, para os personagens
principais. Podemos decidir, então, criar um protagonista que seja
corajoso e impetuoso, com um amigo que seja sábio, mas que promova um alívio
cômico. OU podemos pensar em um protagonista corajoso e sábio, apoiado
por um amigo impetuoso e cômico.
Além destas características, digamos, "boas", é sempre importante colocar uma característica "ruim", pois personagens "perfeitos" não geram tanta empatia quanto os personagens problemáticos. Timidez, traumas, pequenos vícios ou uma quedinha por fazer as coisas erradas dão um charme a mais ao personagem.
Os escritores realmente bons - e aí está o grande segredo - conseguem mostrar as características dos personagens não no texto, mas no subtexto, em tudo que fica implícito nos diálogos entre os personagens, nas metáforas usadas pelo narrador e nas descrições das cenas. Principalmente nos diálogos. Quando retratamos um casal discutindo sobre algum detalhe irrelevante de sua vida, na verdade estamos deixando o leitor perceber, por exemplo, que o homem é maníaco por controle, que a mulher tem medo de enfrentar o marido, mas tem algum segredo escondido, e etc.
E, para não deixarmos de falar das características físicas, basta dizer uma coisa: Da mesma forma que ninguém diz "sou corajoso", isso na verdade fica patente por suas ações (no subtexto...), não há necessidade de descrever fisicamente seus personagens, esta descrição vai nascendo aos poucos no texto, à medida que for necessário. Se a cor do cabelo ou da pele do personagem não afeta em nada a trama, para que ficar descrevendo, então? Lembre-se que descrições são SEMPRE mais pobres do que as informações que aparecem naturalmente no correr da história. É o velho "show, not tell", "mostre, e não conte" das oficinas de escrita criativa.
Para fechar, vale destacar o que Linda Seguer coloca muito bem em seu livro, sobre os personagens e o subtexto: "Muitas vezes, os personagens não entendem a si mesmos. Eles frequentemente não são diretos e não dizem o que realmente querem dizer. Podemos dizer que o subtexto é o conjunto de todas as motivações e significados que não são aparentes para o personagem, mas que são aparentes para o leitor".
Agora, releia o texto acima e troque "personagens" por "seres humanos".
Fonte: http://dicasdoalexandrelobao.blogspot.com.br