quarta-feira, 29 de maio de 2013

Uso da vírgula - Tire suas dúvidas


Apesar de parecer simples, o uso da vírgula é um elemento da escrita em que muitos tropeçam. E uma vírgula mal colocada, ou a falta dela, pode prejudicar completamente a clareza de um texto, tornando-o ambíguo e obscuro. Quer um exemplo? Veja então como estas duas frases têm sentidos totalmente diferentes apenas pela posição da vírgula. "Se o homem soubesse o valor que tem a mulher, andaria de quatro a sua procura". (um sentido). /"Se o homem soubesse o valor que tem, a mulher andaria de quatro a sua procura". (outro sentido). Portanto, ciente da importância do uso correto da vírgula, que tal saber mais e tirar suas dúvidas sobre o emprego desse sinal de pontuação?
Para falar a verdade, virgular bem não é fácil, porque é preciso ter um bom conhecimento de sintaxe. Acrescenta-se a isso o fato de o uso da vírgula ser uma matéria controvertida entre os gramáticos. Não existe unanimidade nem regras absolutas. Diante disso, faremos aqui um apanhado do que o uso geral vem sancionando.
Para começar, é imprescindível acabar com a lenda de que o uso da vírgula está relacionado à respiração. Esqueça isso! Se assim fosse, cada um iria usar a vírgula de um jeito, concorda? Na verdade, o emprego da vírgula depende da estrutura sintática da oração. Você não sabe nada de sintaxe ou esqueceu tudo o que o professor de Português falou naquelas aulas que pareciam enfadonhas? Sim? Então, vamos dar uma pequena revisada.
Todo termo, palavra ou expressão desempenha uma função no período, e é por meio da análise sintática que se reconhecem essas funções. Quais seriam essas funções? Entre outras, as seguintes:
·Sujeito - é o ser de quem se diz alguma coisa ou que pratica a ação.
·Predicado - é aquilo que se afirma do sujeito.
·Predicativo - é o termo que exprime um atributo, um estado ou modo de ser do sujeito ou que se refere ao objeto de um verbo transitivo.
·Objeto direto e indireto - são os complementos verbais.
·Agente da passiva - representa o ser que pratica a ação expressa pelo verbo passivo.
·Adjunto adnominal - é o termo que caracteriza ou determina os substantivos.
·Adjunto adverbial - é o termo que exprime uma circunstância (de tempo, lugar, modo, etc.).
·Aposto - é uma palavra que explica, esclarece, desenvolve ou resume outro termo da oração.
·Vocativo - é o termo usado para chamar o ser a que nos dirigimos.
Fizemos apenas uma síntese, e deve ter ficado meio confuso, não foi? Por isso e, para virgular com precisão, é imperioso que você se aprofunde na análise sintática. Não se esqueça de estudar os diversos tipos de períodos e de orações.
Continuando o desenvolvimento do nosso tema, vamos falar sobre as funções da vírgula.
Funções da vírgula


A vírgula, do mesmo modo que os demais sinais de pontuação, exerce três funções básicas:
·Marcar as pausas e as inflexões da voz na leitura; (A lenda que relaciona uso da vírgula com respiração nasceu dessa função que ela desempenha, mas não há que se confundir entoação verbal com respiração, certo?)
·Enfatizar e/ou separar expressões e orações;
·Esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer ambigüidade.
Antes de falarmos especificamente sobre os casos de uso da vírgula, é melhor esclarecermos quando ela não deve ser empregada. Para isso, é preciso que você saiba que o período segue uma seqüência lógica, também chamada de ordem direta ou ordem habitual, a saber: sujeito -> verbo -> complemento -> circunstâncias. Entenderam agora a necessidade de dominar a análise sintática? Bom, seguindo essa seqüência, sem interferência, não há vírgula, isto segundo a maioria dos gramáticos. Digo “maioria dos gramáticos” porque alguns afirmam que ela seria optativa antes das “circunstâncias” ou, gramaticalmente falando, antes dos adjuntos adverbiais. Ex.: Os policiais militares desencadearam a operação lei seca durante o jogo da seleção brasileira. (ordem direta, sem vírgula)
Sabendo disso, vamos ver os casos em que a vírgula não é usada.
Não deve ocorre vírgula


1 - Entre o sujeito e o verbo:
Ex.: Os policiais prenderam o infrator.
O sargento é mestre em artes marciais.
2 - Entre verbo e complementos verbais:
Ex.: Encontramos o suspeito.
Obedecemos às ordens do comandante.
3 - Antes de orações subordinadas substantivas, exceto as apositivas.
Ex.: Convém que deixemos o local.
Espero que nenhum policial cometa erros durante a operação.
4 - Antes de orações adjetivas restritivas:
Ex.: Ele é o homem que mata passarinhos.
Um vegetal é um animal que dorme.
5 - Em orações coordenadas ligadas por “e” que tenham o mesmo sujeito:
Ex.: Chegou e prendeu o infrator.
Agora, sim, vamos estudar os casos de uso da vírgula.
Casos de uso da vírgula
Usa-se a vírgula para:


1 - Assinalar o vocativo (é o termo com que se interpela/chama o ouvinte/interlocutor):
Ex.: Sargento Mike, compareça ao local da ocorrência.
Cidadão, você será conduzido à delegacia da cidade.
2 - Assinalar o aposto (é o termo da oração que serve par explicar um termo anterior, identificando-o, esclarecendo ou qualificando-o):
Ex.: O comandante do batalhão, pessoa justa, não condenou o sindicado.
Inspetor Bugiganga, policial criativo, prendeu os criminosos.
3 - Precedendo termos de mesmo valor sintático. Observação: Quando o último elemento é introduzido pelas conjunções "e", "ou", "nem", não se usa a vírgula.
Ex.: Amor, fortuna, ciência, somente isso não traz felicidade.
Foram apreendidas armas de fogo, substâncias entorpecentes e bicicletas furtadas.
Nem
 a música, nem o cinema, nem o teatro têm a mesma magia do circo.
Um
 avião, um ônibus ou um automóvel não têm o mesmo charme de um trem.
4 - Precedendo orações coordenadas assindeticamente, isto é, sem uso de conjunções. Via de regra, são orações não introduzidas pela conjunção aditiva “e”.
Ex.: Aborde-o, reviste-o, algeme-o e prenda-o.
Teimou, insistiu, tornou a insistir e acabou sendo demitido.
Chegou a casa, sentou no sofá, ligou o televisor, buscou o canal certo,acomodou-se e assistiu ao filme.
5 - Entre as orações intercaladas:
Ex.: A guerra, disse o general, é uma defesa prévia.
A arma de fogo, disse o policial, é minha ferramenta de trabalho.
6 - Para marcar as orações subordinadas adjetivas explicativas:
Ex.: O carnaval, que é tradicional, a cada ano está mais perigoso.
A alma, que é imortal, integra-se ao cosmo.
7 - Entre expressões explicativas, continuativas, conclusivas, retificativas ou enfáticas de um modo geral (isto é, a saber, por exemplo, a meu ver, na minha opinião, digo, ou melhor, quer dizer, além disso, aliás, assim, com efeito, como dizer, demais, depois, enfim, então, no mais, ora, ou seja, ou antes, igualmente, pensando bem, pois bem, pois sim, por assim dizer, realmente, em suma, note-se bem, finalmente, em verdade, de fato, sim, não, etc.):
Ex.: O criminoso, digo, o cidadão infrator, foi detido às nove horas.
O governador, ou melhor, o excelentíssimo senhor governador, dará um aumento de 100% à classe policial.
Observação desse caso de uso da vírgula: Lembre-se de usá-la com "sim" e "não".
Ex.: Sim, um dia hei de morrer.
8 - Entre as conjunções coordenativas adversativas e conclusivas, quando pospostas/intercaladas (porém, contudo, entretanto, todavia, logo, portanto, etc.):
Ex.: O tiroteio, porém, continuava.
O sargento, portanto, foi homenageado.


9 - Nas datas e endereços:
Ex.: Belo Horizonte, 13 de novembro de 2008.
Rua da Alegria, nº 30.
10 - Para indicar zeugma (elipse/omissão de um ou mais termos anteriormente citados):
Ex.: Uns diziam que se suicidou; outros, que foi assassinado. (elipse do verbo “diziam”)
O dia estava quente; o sol, escaldante. (elipse do verbo “estava”)
Nós viemos da terra; eles, do mar. (elipse do verbo “vieram”)
11 - Precedendo orações principais pospostas:
Ex.: Quando menos se esperava, o cadete deixou de lado suas antigas aspirações.
12 - Antes de “e”, quando as orações apresentarem sujeitos diferentes ou quando o “e” se repetir:
Ex.: Fez-se o céu, e a terra, e o mar.
João escreveu uma carta, e José arrumou a cama.
13 - Nos elementos paralelos de um provérbio:
Ex.: Mocidade ociosa, velhice vergonhosa.
14 - Em construção com termos pleonásticos:
Ex.: Bom policial, talvez não mais o seja.
14 - Para separar predicativos situados antes do verbo (predicativo é o termo que exprime um atributo, um estado ou modo de ser do sujeito ou que se refere ao objeto de um verbo transitivo.):
Ex.: Destemidos e intrépidos, os policiais avançavam pela área de risco.
15 - Orações subordinadas substantivas apositivas:
Ex.: Fez-nos um pedido, que mantivéssemos suas vírgulas.

16 - Antes de locuções adversativas como "e sim", "e não". Entretanto, não se deve isolar essas locuções adversativas com vírgula. Usa-se somente uma, precedendo-as.
Ex.: Ele comprou um DVD,
 e não um CD.
Ele não fez as tarefas de que foi incumbido,
 e sim as que ele quis.
Casos controversos entre os gramáticos

1 - Adjuntos adverbiais e orações adverbiais.
Como vimos acima, o adjunto adverbial é o último elemento da frase, e a oração subordinada adverbial deve vir após a oração principal (seqüência lógica ou ordem direta). Diante disso, alguns gramáticos afirmam que, sempre que o adjunto adverbial ou a oração adverbial vierem deslocados da ordem direta da frase, é necessário o uso da vírgula para marcar esse deslocamento. Outros, dizem que a vírgula é optativa. Outros, porém, ensinam que, nesses casos, o uso da vírgula deve condicionar-se ao número de palavras que contém o adjunto adverbial ou a oração subordinada adverbial. Outros, ainda, dizem que, mesmo a oração subordinada adverbial estando posposta (após) a principal, somente não é usada a vírgula nas orações subordinadas adverbiais finais e orações subordinadas adverbiais conformativas. E outros gramáticos estabelecem outras regras. Então, qual regra usar? Se for num vestibular ou concurso, use as regras do livro indicado no edital. Agora, no dia-a-dia, creio que se deva buscar a harmonia, o ritmo, a melodia, o equilíbrio e, principalmente, a clareza.
Veja exemplos do que acabamos de falar:
Ordem direta da frase:
Ex.: Os policiais militares desencadearam a operação lei seca durante o jogo da seleção brasileira. (sem vírgula)
Os policiais militares desencadearam a operação lei seca, durante o jogo da seleção brasileira. (com vírgula)

Adjunto adverbial deslocado:
Ex.: Durante o jogo da seleção brasileira, os policiais militares desencadearam a operação lei seca. (com vírgula)
Os policiais militares desencadearam ontem a operação lei seca. (sem vírgula)

Período composto. Seqüência normal:
Ex.: O cadete deixou de lado as antigas aspirações quando menos se esperava. (sem vírgula)
O cadete deixou de lado as antigas aspirações, quando menos se esperava. (com vírgula)

Período composto. Oração adverbial deslocada (intercalada ou anteposta):
Ex.: O cadete, quando menos se esperava, deixou de lado suas antigas aspirações.
Quando menos se esperava, o cadete deixou de lado suas antigas aspirações.
Suas antigas aspirações, segundo diziam todos, eram irrealizáveis.
2 - Há também entre os gramáticos controvérsia quanto ao uso da vírgula nas orações reduzidos de gerúndio ou de particípio. Os pontos de conflito são semelhantes aos dos adjuntos verbais e das orações subordinadas adverbiais. Alguns gramáticos afirmam que a ausência da vírgula diante das orações reduzidas é a regra em qualquer tipo de oração adverbial na sua ordem habitual, isto é, depois da oração principal, não anteposta nem intercalada. Outros, afirmam que a vírgula é obrigatória. Outros, afirmam que ela é optativa. Então, caro internauta, é você quem decide.
Ex.: Esse fato contribui ainda mais para afastá-lo da sua missão de eliminar conflitos realizando a justiça. (sem vírgula)
Esse fato contribui ainda mais para afastá-lo da sua missão de eliminar conflitos, realizando a justiça. (com vírgula)
Terminando o trabalho, pode descansar. (com vírgula)


Era isso o que tínhamos para lhe dizer.


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