A descoberta de um inédito. Quem escreve sobre
algum autor, durante longo tempo, sempre sonha encontrar um inédito dele. Pelo
só prazer de ter feito a descoberta. Ou por imaginar que o destino conspirou
para que assim tenha sido. Este caso de agora é curioso. Trata-se de um caderno
de autógrafos que vai trocando de mãos. Sem que nenhum dos seus anteriores
proprietários se tenha dado conta de que o texto de Pessoa, ali escrito, era
mesmo um inédito. Talvez porque, em 2005, algo que seria um como que rascunho
dele tenha sido publicado em Poemas de Fernando Pessoa, 1915-1920, numa edição
de João Dionísio para a Imprensa Nacional – Casa da Moeda, em Portugal.
Pensava-se, era mesmo natural, que seria o tal poema sem título que começa pelo
verso Cada palavra dita é a voz de um morto. Mas desse rascunho, publicado
antes, Pessoa manterá só os dois primeiros versos.
E
outros dois, em seguida. Os demais foram reescritos – em alguns casos,
alterando radicalmente o próprio sentido original do texto. Ou foram excluídos.
Com numerosos acréscimos. Tudo a resultar em algo novo. Para compreender como
isso aconteceu, é preciso O caderno de couro vermelho. Em 29 de janeiro de
1913, o jovem José Osório de Castro e Oliveira está No alto mar, a bordo do
König Wilhelm II – assim, com letra desenhada de quem acabara de fazer 13 anos,
escreve na primeira página daquele caderno.
Fonte:
O Globo – Texto completo aqui.
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