Poucos
escritores se encaixam tão bem na categoria de best-seller como Nicholas
Sparks. Com 20 anos de carreira, o norte-americano já vendeu mais de 100
milhões de cópias dos 19 livros que lançou. Desses, 11 foram adaptados para o
cinema, viraram sucesso de bilheteria e alguns até podem ser considerados
clássicos do romance, como Um Amor para Recordar e Diário de Uma Paixão.
Agora,
porém, o escritor decidiu navegar em outras águas. Em vez do romance entre
jovens apaixonados, fórmula que o consagrou, ele decidiu investir no drama
familiar: em Dois a Dois,
livro que acaba de chegar ao Brasil, Sparks conta a história de Russ, um homem
que vê sua vida desmoronar e que precisa assumir, sozinho, os cuidados de sua
filha London, de apenas 5 anos. “É uma história sobre paternidade”, resume
Sparks, que é pai de cinco filhos e que acaba de terminar um casamento de 25
anos.
No
Brasil, a impressão que fica é que os fãs não se importaram com o
distanciamento de Sparks do romance. Na última semana, uma livraria em São
Paulo foi tomada por centenas de jovens emocionados com a presença do escritor.
Em apenas uma noite, foram mais de 1,2 mil livros autografados. Como resultado,
um sorriso inabalável em seu rosto, apesar do cansaço.
Ao Estado, Sparks, aos 51
anos, falou sobre seu novo livro, sobre as suas inspirações para escrever
tantas histórias, sobre novos projetos e sobre ser tachado de escritor “água
com açúcar”. A seguir, os melhores trechos da conversa:
O
que o sr. espera que as pessoas sintam com a história de ‘Dois a Dois’? O que
quer falar com esse livro?
É
um livro sobre o amor de um homem por sua filha, com os medos naturais de um pai
que tenta ser bom para ela. Mas a trama central, que inspirou o título do
livro, é a ideia de que as pessoas não são feitas para percorrer caminhos
sozinhas. O mundo é mais fácil quando você tem alguém do seu lado, seja sua
família, um amigo ou filhos. Apenas pessoas que se importam com você. São essas
duas ideias principais: a paternidade e a necessidade de ter alguém do seu
lado.
A
história é surpreendente para quem acompanha o seu trabalho. Ela tem um pouco
de romance, mas é mais dramática. De onde veio esse desejo de escrever uma
história sobre um drama familiar?
Dramas
familiares sempre fizeram parte dos meus romances. É fácil pensar sobre os meus
livros como sendo apenas histórias de amor, mas é muito mais do que isso.
Minhas histórias são mais do que romances, e tem sido muito mais do que isso ao
longo de toda a minha carreira. Para mim, é natural escrever sobre um drama
familiar. Ele envolve as principais emoções que sentimos e eu acho que, se você
as coloca numa história, você ecoa as emoções nos leitores. E com isso eles
tendem a lembrar da história muito depois de terminar de ler.
Em
‘Dois a Dois’, temos duas personagens homossexuais. Mas até hoje não tivemos
nenhuma obra sua com personagens principais gays. O sr. pensa em fazer algo
assim?
Esses
personagens refletem a realidade e eu gosto de romances que refletem a
realidade. Tenho familiares que são gays, eu trabalho com homossexuais, e eles
acabam nos meus livros. É um movimento natural e isso deve continuar a
acontecer.
O
sr. não sente vontade de escrever livros de diferentes gêneros?
Tenho
curiosidade de saber como seria um livro policial escrito pelo sr., ou até
mesmo um conto de terror.
É
interessante, mas não tenho vontade. Afinal, quando eu escrevo dramas, eu
sempre coloco elementos de outros gêneros na história. Meu último livro, No Seu
Olhar, se transforma em suspense em determinado momento da história. Na última
metade do livro, as pessoas até se perguntam: ‘Cadê o meu romance?’. Já
consegui usar suspense, elementos sobrenaturais e até mesmo faroestes em minhas
histórias. Não tenho motivo para mudar completamente para um outro gênero
literário.
Mas
o sr. recebe críticas por ser muito ‘água com açúcar’, não é?
Eu
não penso nisso.
Nunca?
Quando
escrevo um livro, sei que é o melhor trabalho que posso fazer. Se a minha
agente e o meu editor estão felizes com a história, sei que é o melhor
resultado que poderia ter. Fico feliz com as minhas histórias,
independentemente do que as pessoas digam ou das críticas que meu livro recebe.
E
você faz muito sucesso no cinema com essas histórias?
Sim,
tive muitos livros adaptados para o cinema. E eu não sei o motivo. Quando Uma
Carta de Amor estreou, rendeu mais de US$ 50 milhões de bilheteria e logo
começamos a fazer outro filme. E aí fizemos Um Amor para Recordar e foi um
sucesso. Arrecadou cerca de US$ 60 milhões, enquanto gastamos US$ 6 milhões. E
a partir daí, um sucesso leva a outro.
Qual
o segredo para isso?
Meus
filmes possuem papéis interessantes para atores, o que atrai bons nomes para
minhas produções. É divertido fazer um filme de aventura ou um filme da Marvel,
mas esses personagens não possuem alcance. Por isso, bons atores querem atuar
em meus filmes e, talvez por isso, eles fazem tanto sucesso.
Você
participa da produção dos filmes?
Sempre
me envolvo muito. Fico muito envolvido durante o processo de criação,
trabalhando com o diretor, me envolvendo com o elenco. E, quando o filme
começa, eu deixo os diretores e os atores fazerem seus trabalhos.
Você
tem planos de adaptar ‘Dois a Dois’ para o cinema?
Esse
é um tipo de história pela qual eu tenho muito interesse em adaptar para o
cinema. Mas não é algo imediato.
Qual
o sentimento de fazer parte da vidas das pessoas? Afinal, ‘Diário de Uma
Paixão’, por exemplo, marcou uma geração.
É
um dos melhores sentimentos do mundo. É muito honroso ter fãs de 15 anos ou 90
anos. Nos lançamentos dos meus livros, encontro mães, filhas, avós. Todas com
meus livros. Fico feliz por ter sido capaz de ultrapassar gerações.
Quais
são seus
planos futuros?
Estou
trabalhando num romance, espero terminá-lo até julho. E espero começar outro em
seguida, se tiver uma ideia. Mas claro, ainda tenho vida. Tenho filhos, filmes.
Não posso parar.
Fonte: O Estadão