O
câncer está nos jornais e revistas, o câncer está no cinema, o câncer está na
política, o câncer está na moda.
O
câncer já foi biografado. Sua história rendeu ao oncologista Siddhartha
Mukherjee o Prêmio Pulitzer de 2011 “O Imperador de Todos os Males: Uma
Biografia do Câncer” (Companhia das Letras).
Agora,
é a vez de a história da luta contra o câncer no Brasil ser contada. A missão
coube ao escritor Eduardo Bueno, que escolheu como fio condutor a trajetória do
Hospital A.C. Camargo, referência no tratamento da doença no país.
À
primeira vista, a obra tem cara de publicação institucional. A começar pelo
patrocínio do grupo Votorantim. A família Ermírio de Moraes, dona do
conglomerado, participa da gestão do hospital, com José Ermírio de Moraes Neto
na presidência do conselho curador e Liana de Moraes na diretoria executiva.
Mas
Bueno, autor de mais de 30 livros, contornou a situação com um bom resgate
histórico da biografia do câncer e do seu combate, além de bastidores políticos
da República Velha e da Era Vargas.
Jornalista
dos Diários Associados, a gaúcha Carmem tinha trânsito livre nas altas rodas do
poder. Seu pai, Heitor Annes Dias, era médico particular de Getúlio Vargas e da
sua mulher, Darcy.
O
marido, o cirurgião Antônio Prudente, era da oligarquia rural paulista e neto
do primeiro presidente civil brasileiro, Prudente de Moraes.
Por
meio da história do casal, é possível conhecer a disputa política em torno das
primeiras ações de combate ao câncer no país. Em viagem aos EUA, em 1945,
Carmem conheceu as campanhas para arrecadação de dinheiro para o combate da
doença, feitas pelas ligas femininas. A partir de 1946, ela passou a organizar
no Brasil ações semelhantes.
Também
foram espalhados 25 mil cartazes pelas ruas de São Paulo, além de uma exposição
de tumores preservados em formol. Ideia ousada para uma época em que se evitava
até mesmo falar a palavra câncer.
Quase
70 anos depois, a doença ainda aterroriza, mas hoje várias formas de câncer são
curáveis graças a pesquisas que levaram ao desenvolvimento de terapias mais
eficazes - muitas delas, aliás, financiadas por beneméritos que enxergaram além
da própria conta bancária.
Fonte: Folha de São Paulo
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