segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Boni se lança como autor de ficção


Tudo começou como saudade. Saudade que José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, sentia dos amigos que já se foram. Como encontrá-los por aqui seria empreitada custosa, o empresário decidiu, então, morrer para chegar até eles. Só na ficção, claro. O resultado dessa brincadeira, dessa "revisão afetiva", é o livro "Unidos de outro mundo - dialogando com os mortos", primeiro título do selo Estação Brasil, da editora Sextante, em parceria com a Rara.

- Como comecei na TV muito jovem, as pessoas com quem convivia eram mais velhas. Elas foram morrendo e eu fui ficando sozinho - explica ele, conhecido como o "Todo-poderoso" da Globo, emissora que ajudou a conceber e na qual ficou por 31 anos, de 1967 a 1998.

No livro, Boni é vítima de um acidente de carro fatal na avenida Niemeyer. Morto, mas totalmente consciente, logo encontra João Araújo (1935-2013), presidente da gravadora Som Livre por anos. Com seu copo de uísque Black & White na mão, João se torna seu relações-públicas no céu. "Você acabou de entrar para o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Outro Mundo", avisa ele.

É a deixa para que o empresário, atualmente com 80 anos, comece um acerto de contas com o passado. Pelo caminho, encontra a mãe, Kina, o pai, Orlando, avós, tias, primos. Na ala profissional, esbarra com Paulo Gracindo, Cassiano Gabus Mendes, Chico Anysio, Chacrinha, Dercy Gonçalves, Carlos Manga e Roberto Marinho, entre outros. Alguns amigos da vida inteira. Outros, desafetos com quem precisava se entender, diz. Enfim, faz "reconexões", como gosta de definir.

- É uma pena que a gente perca pessoas que quer bem, sem ter resolvido com elas os problemas que queríamos ter resolvido. Registrei ali coisas que gostaria de ter dito em vida a elas - observa Boni. - Sempre disse que consegui passar a vida toda sem meu pai. Mas confesso que ele me fez muita falta.

Os personagens, conta, foram selecionados aos poucos. E à medida que os amigos iam morrendo, ele ia mudando os "componentes" da agremiação.

- Eu quis colocar pessoas mais populares, mais conhecidas do público. Aí morreu o Carlos Manga (diretor), reabri o livro. Depois foi o Miele (Luiz Carlos, ator), mudei de novo. Aí veio a Yoná (Magalhães, atriz). Estava rezando para não morrer mais ninguém - comenta ele, que usou somente histórias verdadeiras como exemplos.

Em tom bem-humorado, Boni retoma esses tais casos antigos e tenta ficar "quite" com gente como o ator Sérgio Cardoso, magoado pelo então diretor ter dado a Paulo Gracindo e não a ele o papel do bicheiro Tucão, em "Bandeira 2", de 1971. Com Walter Clark, com quem trabalhou na Globo, Boni tenta esclarecer muitos mal-entendidos que envolvem a relação profissional dos dois, e a saída de ambos da emissora.


Fonte: O Globo - Matéria completa aqui.

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