Tudo começou como
saudade. Saudade que José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, sentia dos
amigos que já se foram. Como encontrá-los por aqui seria empreitada custosa, o
empresário decidiu, então, morrer para chegar até eles. Só na ficção, claro. O
resultado dessa brincadeira, dessa "revisão afetiva", é o livro
"Unidos de outro mundo - dialogando com os mortos", primeiro título
do selo Estação Brasil, da editora Sextante, em parceria com a Rara.
- Como comecei na TV
muito jovem, as pessoas com quem convivia eram mais velhas. Elas foram morrendo
e eu fui ficando sozinho - explica ele, conhecido como o
"Todo-poderoso" da Globo, emissora que ajudou a conceber e na qual
ficou por 31 anos, de 1967 a 1998.
No livro, Boni é vítima
de um acidente de carro fatal na avenida Niemeyer. Morto, mas totalmente
consciente, logo encontra João Araújo (1935-2013), presidente da gravadora Som
Livre por anos. Com seu copo de uísque Black & White na mão, João se torna
seu relações-públicas no céu. "Você acabou de entrar para o Grêmio
Recreativo Escola de Samba Unidos do Outro Mundo", avisa ele.
É a deixa para que o
empresário, atualmente com 80 anos, comece um acerto de contas com o passado.
Pelo caminho, encontra a mãe, Kina, o pai, Orlando, avós, tias, primos. Na ala
profissional, esbarra com Paulo Gracindo, Cassiano Gabus Mendes, Chico Anysio,
Chacrinha, Dercy Gonçalves, Carlos Manga e Roberto Marinho, entre outros.
Alguns amigos da vida inteira. Outros, desafetos com quem precisava se
entender, diz. Enfim, faz "reconexões", como gosta de definir.
- É uma pena que a
gente perca pessoas que quer bem, sem ter resolvido com elas os problemas que
queríamos ter resolvido. Registrei ali coisas que gostaria de ter dito em vida
a elas - observa Boni. - Sempre disse que consegui passar a vida toda sem meu
pai. Mas confesso que ele me fez muita falta.
Os personagens, conta,
foram selecionados aos poucos. E à medida que os amigos iam morrendo, ele ia
mudando os "componentes" da agremiação.
- Eu quis colocar
pessoas mais populares, mais conhecidas do público. Aí morreu o Carlos Manga
(diretor), reabri o livro. Depois foi o Miele (Luiz Carlos, ator), mudei de
novo. Aí veio a Yoná (Magalhães, atriz). Estava rezando para não morrer mais
ninguém - comenta ele, que usou somente histórias verdadeiras como exemplos.
Em tom bem-humorado,
Boni retoma esses tais casos antigos e tenta ficar "quite" com gente
como o ator Sérgio Cardoso, magoado pelo então diretor ter dado a Paulo
Gracindo e não a ele o papel do bicheiro Tucão, em "Bandeira 2", de
1971. Com Walter Clark, com quem trabalhou na Globo, Boni tenta esclarecer
muitos mal-entendidos que envolvem a relação profissional dos dois, e a saída
de ambos da emissora.
Fonte: O Globo - Matéria completa aqui.
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