Divulgado no último dia
11, o Prêmio Jabuti 2016 causou surpresa, pelo menos na categoria “Contos e
Crônicas”. Ainda pouco conhecida, a escritora gaúcha Natalia Borges Polesso, de
35 anos, derrotou nomes como Rubem Fonseca, Luis Fernando Veríssimo, Luiz Eduardo
Soares e Antonio Carlos Viana. Nem mesmo a própria autora, que foi recompensada
por seu segundo livro de contos, “Amora” (Não Editora), imaginava que iria
vencer.
— Conhecendo o trabalho
das escritoras e dos escritores que figuravam entre os finalistas, pensei que
ali entre os dez já estava a minha imensa alegria e comemoração — conta
Natalia, em entrevista por email. — Quando saiu o resultado demorei alguns
minutos para entender.
Natalia publicou a sua
primeira coletânea de contos, “Recortes para álbum de fotografias sem gente”
(Modelo de Nuvem), em 2013 — um projeto inaugural e “um tanto cru em
termos de técnica”, como ela mesmo define, que juntava vários recortes em prosa
poética. Depois de um livro de poemas (“Coração na corda”), veio “Amora”, uma
obra mais pensada. A ideia era trabalhar com protagonistas lésbicas, falando
sobre relações de afeto, mas não de maneira erótica.
— A gente fala lésbica
e a galera já pensa em sexualidade — diz a autora. — O erotismo tangencia
alguns contos, mas estou mais preocupada em contar histórias de vida. Os textos
tratam de vários tipos de relação, desde curiosidades infantis por figuras
enigmáticas ou estranhas até amores adultos e na velhice. Nesses três livros
que publiquei, tratei direta ou indiretamente de relações homoafetivas. Com o
tempo, fiz desse ponto de vista uma escolha estética, porque acho importante
que essa experiência seja vista, reconhecida e respeitada.
Moradora de Caxias do
Sul, uma cidade de 500 mil habitantes no Rio Grande do Sul, que ela não
considera nem “interior” nem “grande centro” do Brasil, Natalia vive numa
espécie de meio termo de espaço e de mentalidade. Embora não saiba dizer se
isso faz dela uma “escritora periférica”, acredita que, como mulher e lésbica,
acaba ocupando “um lugar de fala que faz um contraponto necessário num mar de
vozes masculinas”.
— Personagens lésbicas
não são uma novidade na literatura brasileira, mas parece-me que é um assunto
pouco explorado — diz. — Quero pensar que hoje existem mulheres escrevendo
sobre isso e de todos os pontos de vista possíveis. E quero essas vozes em
feiras e festas literárias. Quero dizer: estamos aqui escrevendo e (r)existindo.
maxmorenooficial.com.br
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