A teoria do eterno retorno, as
estratégias de guerra que mudaram o curso da história e a profundidade
psicológica dos personagens de Shakespeare podem caber numa história em
quadrinhos. Uma coleção de mangás que está chegando às livrarias do Brasil
mostra o que os clássicos – e o público – têm a ganhar com essas adaptações.
Criada pela editora japonesa East Press,
a coleção Manga de Dokuha (algo como "Aprendendo com
mangá"), que reúne adaptações de mais de uma centena de clássicos da
literatura universal, está recebendo agora versão em português pela editora
L&PM. Nesta semana, chegam às lojas A
Metamorfose, de Franz Kafka (ilustração ao lado), eDo
Contrato Social, de Jean-Jacques Rousseau,
somando-se a outros títulos já disponíveis nas livrarias brasileiras – Assim Falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche; A Arte da Guerra, de Sun Tzu; Hamlet,
de William Shakespeare; O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald; e Manifesto do Partido Comunista,
de Karl Marx e Friedrich Engels.
Em 2011, a editora JBC havia editado apenas O
Capital, de Marx, hoje com exemplares esgotados.
Feitos coletivamente por um estúdio
contratado pela East Press, os livros não contam com créditos de roteirista ou
desenhista – a única assinatura a figurar nas capas é a do autor da obra
original. No entanto, não é possível dizer que as adaptações padecem de marca
autoral, principalmente nos roteiros de obras filosóficas. Em Assim Falou Zaratustra, por
exemplo, o contexto histórico da obra e os principais conceitos filosóficos de
Nietzsche são trabalhados a partir da história do filho do pastor de uma igreja
decadente que se revolta ao descobrir que foi adotado. É um enredo que não está
presente no livro do autor alemão, mas serve como uma introdução à leitura.
– Uma boa adaptação precisa trazer algo
novo, uma nova possibilidade de leitura do original, a preocupação de agregar
elementos para o encontro com a obra original – opina Vinícius Rodrigues,
professor de Ensino Médio que pesquisou o uso dos quadrinhos para ensino em
sala de aula no seu mestrado em Letras pela UFRGS.
Nesse sentido, as adaptações de Hamlet e O Grande Gatsby acabam sendo o elo mais frágil
da coleção. Bastante fiéis aos enredos clássicos, não trazem textos ou
conteúdos capazes de dialogar com as obras que lhe deram origem. Mas a
linguagem rápida e a sucessão de quadros quase cinematográfica são um sedutor
convite à leitura.
O tradutor de quadrinhos Alexandre Boide,
que assina a preparação dos livros, evita comparações com os originais:
– É preciso encarar essas edições como
obras em quadrinhos para jovens leitores. É um bom entretenimento que traz ao
leitor um pouco do universo de um clássico.
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