Mais do que por grandes lançamentos, o ano de 2014 foi um ano
especialmente triste para a literatura, que perdeu, num único mês, em julho,
João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna, Ivan Junqueira, Rubem Alves e
Nadine Gordimer. Em abril, foi o colombiano Gabriel García Márquez. Em
novembro, Manoel de Barros.
A Academia Brasileira de Letras recebeu seus novos imortais: Antônio Torres, Zuenir Ventura, Ferreira Gullar e Evaldo Cabral de Mello. Também imortal, o africanista Alberto da Costa e Silva recebeu o Prêmio Camões, o mais importante da literatura lusófona. O ilustrador Roger Mello ganhou o Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantil e juvenil. O escritor e crítico literário Silviano Santiago, o Prêmio José Donoso, e a poeta Adélia Prado, o canadense Griffin.
Não houve unanimidade nas premiações brasileiras e o destaque foi para Ana Luisa Escorel, que inscreveu seu romance de estreia, Anel de Vidro, na categoria de autores veteranos do Prêmio São Paulo e se tornou a primeira mulher a vencer na categoria principal. Destaque, também, para Laurentino Gomes que venceu pela terceira vez o Jabuti de livro do ano de não ficção por sua trilogia best-seller sobre a história do Brasil. E para a criação do Prêmio Saraiva de Música e Literatura - para trabalhos originais.
O mercado editorial foi surpreendido por algumas notícias. A aquisição da Santillana pelo Grupo Penguin Random House refletiu no Brasil com a fusão da Companhia das Letras e Objetiva/Alfaguara. O Grupo Sextante comprou 50% da gaúcha L&PM. A Amazon começou a vender livros físicos no país, lançou seu serviço de aluguel de e-books sem o apoio de grandes editoras e lidera o comércio de livros digitais por aqui, que ainda é pequeno, mas vem crescendo. Segundo a pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial, feita pela Fipe e anunciada este ano, o faturamento das editoras com o e-book saltou de R$ 3,8 milhões em 2012 para R$ 12,7 milhões em 2013 - um indício de que 2014 verá números ainda maiores. Pensando nisso, a Saraiva lançou o Lev, seu e-reader.
Mesmo com esses números, este foi, mais uma vez, um ano sem crescimento. Essa crise, a ameaça da Amazon, que chegou com tudo praticando preços que o mercado não consegue acompanhar, e a relação desigual mantida entre editoras e grandes redes de livrarias e entre editoras e livreiros independentes, levou de volta a lei do preço fixo do livro ao debate.
O cenário, no entanto, não impediu que novas editoras surgissem em 2014. Dois destaques: a Poetisa, que vai dar prioridade a boas traduções, e a Mundaréu, que se dedicará, por ora, a livros de história, filosofia e ficção alemã.
O Brasil passou discreto pela Feira do Livro de Frankfurt um ano após ter sido o convidado de honra e fez bonito na Feira do Livro Infantil de Bolonha, onde foi homenageado. Centenários como o de Julio Cortázar, Bioy Casares e da Primeira Guerra Mundial e ainda os 50 anos do Golpe Militar motivaram o lançamento de dezenas de livros. Em São Paulo, uma caneta que pertencia a Graciliano Ramos foi furtada antes da abertura de exposição dedicada ao autor, no Museu da Imagem e do Som. Em Porto Alegre, vida e obra de Moacyr Scliar foram contadas na mostra O Centauro do Bom Fim. E Belo Horizonte expôs cartas de Carlos Drummond de Andrade na exposição Quase Poema.
O Vale Cultura levou novo ânimo e consumidores para as livrarias - e editores e livreiros seguem na torcida para que ele seja usado em massa para a compra de livros. E o brasileiro, por sua vez, torce para que iniciativas como a da escritora Patrícia Engel Secco de simplificar obras de autores clássicos, como Machado de Assis, autorizada pelo Ministério da Cultura a captar R$ 1,5 milhão e que tanta polêmica causou este ano, não se repitam.
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