Alguns
caminhos e dificuldades para publicar, vender e ser lido e reconhecido como
autor no Brasil
Por José Nêumanne Pinto
Ilustração: Robson Vilalba
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- Recuse a mediocridade, pois para escrever bem é preciso ter tolerância zero
para o erro
Conheci
o prazer de fruir a boa literatura antes de aprender a ler. Minha mãe dizia de
cor poemas nas noites escuras e quentes do sertão na calçada da casa onde
morávamos em Uiraúna (PB). Ali travei contato com Augusto dos Anjos, Jansen
Filho, Casimiro de Abreu e, principalmente, Antônio Frederico de Castro Alves,
os favoritos dela. Na primeira infância, me arrisquei a escrever logo depois de
me ter iniciado no prazer da leitura. Foi aí que percebi que para escrever bem
é preciso ler o máximo possível. Mas, de preferência, só ler coisas boas. A má
leitura é nociva à boa escrita. O primeiro duro desafio para o autor iniciante
é separar o joio do trigo. Certa vez, em Buenos Aires, o genial Jorge Luis
Borges me disse que a imprensa é uma desgraça da humanidade, pois bom mesmo era
o tempo dos papiros, pergaminhos e dos palimpsestos (principalmente neste caso,
pois um texto teria de superar o outro para ser inscrito em cima dele), quando
reproduzir a escrita dava muito trabalho, não era mecânica, como passou a ser
por causa do prelo. Um dos escritores favoritos de Borges, o britânico
Chesterton, escrevia muito para jornais, mas dizia que quando desejava saber o
que se passava na humanidade, lia a Bíblia.
Os
grandes escritores acabam por adquirir autonomia para o exercício seletivo do
livre arbítrio em meio à profusão de publicações que a indústria editorial
oferece. Cada dia fica mais fácil reproduzir escritos e cada dia mais
proliferam textos ruins, que os autores praticamente impõem aos editores e
estes aos leitores. Qual terá sido o efeito disso na enorme oferta de livros
pela indústria editorial e na queda de qualidade? O grande poeta paraense Ruy
Barata dizia nos “botecos literários” de Belém: “Uma livraria tem um poder
enorme; para o bem ou para o mal. Sua vida inteira pode depender da escolha
que, dentro dela, você vier a fazer”.
Ou
seja, o autor iniciante precisa ser vacinado contra a pior das pragas
literárias, a contaminação da mediocridade. A mediocridade é ostensiva,
exibicionista e tirânica. O medíocre não se contenta em sê-lo. Ele quer ter
cúmplices. Danou-se: senti-me incorporando Nelson Rodrigues ao lhes afirmar
isso. Mas voltemos ao rés do chão. Eu tenho fama de ser malvado e até
grosseiro, mas até hoje nunca tive coragem de rejeitar de cara um livro ruim
que me oferecem. Minha mãe ficava furiosa com minha mania de corrigir os erros
de português da conversa de suas amigas. Talvez por isso, sinto certa
dificuldade até para não colocar na estante a má obra, capaz de contaminar as
melhores na minha biblioteca.
Leia o texto completo aqui.
Fonte: Jornal Rascunho
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