Obra é
inspirada em suas experiências maternais
Quando uma mulher se
torna mãe, uma das coisas que ela mais ouve são conselhos de pessoas próximas -
ou não - de como agir ‘corretamente’ com o bebê. Como se o que deu certo para
elas fosse a fórmula mágica a ser seguida por outras mães. Não é assim. Algo que
funciona com uma não pode necessariamente funcionar com outra. Para se
aprofundar nesse e em outros temas da maternidade real, a jornalista Rita
Lisauskas, de 40 anos, e mãe de Samuel, de 7, se dedicou, desde o ano passado,
a seu livro Mãe Sem Manual (Ed. Belas Letras; R$ 39), que foi lançado sábado, 6, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.
Com Mãe Sem Manual,
Rita diz que quer que as mães se sintam abraçadas. “Nada na vida é só querer.
Você pode ter toda a informação, pode ir atrás, e pode não rolar para você.
Acho que o livro vem para falar isso. Estou te falando que é isso e aquilo,
mas, se não rolar, tudo bem, não dá para fazermos tudo do jeito que
planejamos”, defende Rita, em entrevista ao Estado.
“Acho que tem duas
diferenças: uma coisa é você ser enganada, perseguir falsos mapas e cair lá no
final; outra é você ter informação e, mesmo assim, não dá para você. Ou, então,
você pode até não querer: sei que é melhor, mas para mim não dá. ‘Ah, você tem
de tentar’, mas, de repente, você não quer. E aí? Se a gente fala ‘meu corpo,
minhas regras’, a gente fala isso para tudo. Não estou aqui para julgar
ninguém, estou para dar informação. Tentei deixar isso claro: existem mulheres
que não querem e ok, e tem que respeitar. Porque, se a ideia é ser sem manual,
quem sou eu para falar que tem de ser de um jeito ou de outro?”, emenda a
jornalista, que é blogueira do portal do Estado, criadora do blog Ser Mãe é
Padecer na Internet.
E
isso envolve desde decisões mais corriqueiras quanto mais importantes - e que,
muitas vezes, geram discussões mais acaloradas nas redes sociais -, como parto
normal ou cesárea. “Claro que ninguém é ‘menos mãe’ ou ‘mais mãe’ porque teve
um parto ou outro, isso é bobagem”, escreve Rita no capítulo O Fla-Flu do
Parto.
Com
divertidas ilustrações de Thaiz Leão, do projeto Mãe Solo, o livro foi escrito
por Rita a partir de suas experiências como mãe, mas também com ajuda de
depoimento de outras mães e de informações obtidas com especialistas de
diversas áreas, como pediatras, obstetras e advogados.
Com
textos em tom de cumplicidade e bem-humorados, feitos especialmente para o
livro, Rita segue uma espécie de ordem cronológica na vida da mãe, desde quando
ela descobre que está grávida, passando pela amamentação, pós-parto, a volta ao
trabalho, e, encaminhando, nas páginas finais, para os 365 dias da mulher como
mãe - ou, como diz Rita, “o primeiro ano de aniversário da mãe” - e a
importância do pai nesse contexto - “ele é o parceiro dessa mulher, não é o
cara que ajuda, ele é o cara que tem de ir junto”.
Objeto
místico. Para reforçar a ideia de que a vida da mãe não tem manual, no capítulo
Era Uma Ótima Mãe, Até Que Meu Filho Nasceu, Rita conta que ela e o marido
tinham decidido que o filho, carinhosamente chamado de Samuca, não iria usar
chupeta. Até que em uma madrugada, às 3 horas da manhã, nada o fazia se
acalmar. Ela, então, começou a jogar no chão tudo o que estava no guarda-roupa
em busca da chupeta perdida que uma amiga, não sabendo da decisão do casal,
tinha dado de presente. E eis que encontrou o “objeto proibido e místico”. “As
pessoas que são privadas de uma noite boa de sono são capazes de tudo, até de
abrir mão de suas convicções pessoais”, ela escreve. E, algumas linhas adiante,
faz uma metáfora certeira: “Maternidade é como o Waze: é preciso recalcular a
rota o tempo todo”.
Um
dos temas de Mãe Sem Manual que mexe particularmente com Rita é a amamentação.
No capítulo Quem Ensina as Mães a Amamentar? Ninguém, ela relata como a falta
de informação sobre o assunto, na época do nascimento do filho, a privou de
amamentar seu Samuel como desejava. “A discussão sobre o parto está ao alcance
de todo mundo, e a gente ainda está falando menos da amamentação. Então, às
vezes, as mulheres estão lutando pelo parto e esquecem que depois tem a
amamentação”, diz Rita. “Se, na época que seu filho nasceu, existissem as
comunidades de mães (nas redes sociais) das quais participo hoje, eu, por
exemplo, teria procurado ajuda para amamentar, porque ninguém me falou nada
sobre amamentação durante meu pré-natal. Achei que era colocar meu filho no
peito e ele ia mamar.”
O
livro de Rita segue na esteira de seu blog, que, por sua vez, nasceu de uma
série de postagens que fazia no Facebook. E o que ela diria hoje para as mães
de primeira viagem? “Eu diria: estamos juntas, é difícil para todo mundo, é
maravilhoso também. Eu não queria ir para o lado do terrorismo, mas tudo o que
é real é verdadeiro. Uma das únicas coisas que os palpiteiros falam que é real
é aquela coisa do ‘aproveita que passa rápido’.”
Fonte: O Estadão
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