O
premiado romance homônimo de Salman Rushdie, "Os Filhos da
Meia-Noite", representa um grande desafio para ser transformado num filme.
Com mais de 500 páginas e algumas dezenas de personagens, esse é um livro que
requer uma leitura atenta e algum conhecimento sobre a história da Índia.
Um
dos maiores exemplos de literatura colonial, o romance usa fatos reais -como a
independência do país, em 1947- combinados com narrativa ficcional embalada num
realismo mágico, algo que raramente funciona no cinema. O longa estreia em São
Paulo, Rio e Brasília.
Dirigido
pela indiana Deepa Mehta, a partir de um roteiro do romancista -que fornece sua
voz como narrador-, o longa resulta numa minissérie condensada e apressada sem
tempo para que os eventos se desenvolvam de forma orgânica. Para compreender o
romance, apêndices, que incluem mapas e árvores genealógicas, são necessários.
Na tela, Deepa reduz tudo aos quiproquós de uma telenovela, com uma narração
solene e reverente.
Em tom de fábula sombria, esse é o ponto de partida do
monólogo de Saleem (Satya Bhabha), que conta a história de sua família a sua
futura esposa. Esse prólogo traz fatos que o próprio personagem não poderia
ainda conhecer, pois seu nascimento se dá lá pelos 30 minutos de filme. É o
tipo de recurso que funciona melhor nas páginas de um romance do que na tela.
Filmado no Sri Lanka com um título falso -especialmente por
conta das polêmicas envolvendo o autor do romance, como a sentença de morte
emitida pelo aiatolá Khomeini, nos anos de 1980, quando publicou "Versos
Satânicos"-, "Os Filhos da Meia-Noite" é um filme que deixa de
lado os elementos mais interessantes do romance, como a busca de uma identidade
da Índia tentando superar seu passado colonial, para transformá-lo num
entretenimento longo e inócuo.
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