Título foi editado
originalmente em 1985 por Airton Ortiz, patrono da próxima Feira do Livro de
Porto Alegre. Volume é assinado pelo sargento reformado Marco Pollo Giordani
A capa
da primeira edição de "Brasil: Sempre" (centro) estampava uma
provocação ao fazer uso do mesmo projeto gráfico de "Brasil:
Nunca
Mais" (esquerda). Nova edição (direita) foi ampliada.
No
ano em que o golpe de 1964 completa cinco décadas, o mercado editorial
brasileiro recebeu uma profusão de títulos que tentam analisar o regime militar
no país. Nesta sexta-feira, um dos livros que mais causaram polêmica sobre o
tema no Estado ganha uma nova edição, com sessão de autógrafos na Livraria
Cultura, em Porto Alegre, às 19h.
Lançado
originalmente em 1986, Brasil: Sempre, do então
sargento Marco Pollo Giordani,
tentava rebater as denúncias de arbitrariedades das Forças Armadas no regime
militar. O volume ganhou as livrarias pelas mãos de um ilustre personagem da
60ª Feira do Livro de Porto Alegre. Airton Ortiz, patrono do
evento, foi o responsável pela primeira edição do livro quando dirigia a
extinta editora Tchê!.
–
O primeiro editor que procurei foi o Ortiz. Ele abraçou o projeto. Eu jamais
esperava isso, pois a Tchê! era considerada de esquerda, mas negócios são
negócios – conta Giordani.
O
título do livro era uma provocação a Brasil:
Nunca Mais, volume lançado pela editora Vozes em 1985 e considerado um marco na
divulgação de documentos de denúncia sobre o regime militar. Por sua vez, Brasil:
Sempre buscava apresentar o perigo dos
movimentos considerados subversivos e divulgava uma lista com supostas vítimas
de ações terroristas.
–
Não posso analisar só um lado da questão, mas minha ideologia é clara, fui um
homem do regime – destaca o autor, que foi agente do DOI-Codi.
Ortiz
diz não se arrepender de ter aberto as portas da Tchê! para um título
identificado com a ditadura:
–
Giordani era agente da ditadura militar, mas, por um problema médico, foi
afastado e ficou brabo com o Exército. No livro, tornou públicos relatórios e
formulários que os agentes da época faziam. Publiquei o volume para divulgar
documentos que explicavam os processos que o Exército usava para prender e
torturar dissidentes políticos.
Brasil:
Sempre vendeu cerca de 20
mil exemplares, uma cifra expressiva para o mercado editorial da época. Mas
Ortiz afirma que não topou a edição por critérios comerciais:
–
Não achava que seria um sucesso, porque a direita não lê. Minha intenção era
divulgar documentos. Era uma época de caça a documentos da ditadura, foi o que
moveu a publicação do livro. Todo o catálogo da Tchê! era de esquerda, não
havia como a editora ser estigmatizada como direitista.
A
lista de vítimas dos subversivos rendeu problemas a Giordani. Em reportagem de
ZH por ocasião do lançamento, em agosto de 1986, o militante dos direitos
humanos Jair Krischke provocou o autor a apresentar o responsável por um dos
homicídios citados. A provocação repercutiu, e Giordani acabou preso por 10
dias no 3º Batalhão da Polícia do Exército por razão de ordem disciplinar, uma
vez que se manifestou sobre assuntos sigilosos.
Marco
Cena Lopes, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, afirmou desconhecer a
publicação, mas considera que o envolvimento de Ortiz não prejudica a imagem do
patrono:
–
Não será uma publicação que vai comprometer toda a carreira literária do Ortiz,
ainda mais um livro que nem é assinado por ele, não sendo uma expressão de seu
próprio pensamento.
A
segunda edição de Brasil:
Sempre foi editada de modo
independente e conta com novos textos de Giordani – incluindo manifestações de
apoio aos métodos de tortura usados no regime militar.
– A
própria CIA reconheceu que chegou ao Bin Laden através da tortura. Você não
pode dar uma aspirina contra um câncer, não vai resolver. Sem isso (a tortura), estaríamos igual à Colômbia – afirmou
o autor.
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