Depois de uma carreira de dez anos em duas grandes editoras,
carioca se consolida como representante de jovens escritores brasileiros
Já Luisa Geisler se lembra bem de quando almoçou com Marianna pela primeira
vez. A escritora já sabia ter sido selecionada para a “Granta”, mas o anúncio
não havia sido feito — por isso ela manteve segredo. Quando os eleitos foram
divulgados, ela não quis saber do assédio de outros agentes.
—
O fato de ela já conhecer e gostar do meu trabalho antes de saber que eu tinha
sido selecionada me passou muita confiança — diz Luisa. — Sem falar que eu sou
tímida, e ela é superaberta. Eu acabaria ficando com vergonha de negociar. E
também não entendo nada de contrato.
Um
adjetivo vem à mente dos autores quando alguém pede para descreverem sua agente
literária: pilhada. Xerxenesky chega a dizer que Marianna é “quase hiperativa”.
Mas eles também veem nessa característica um dos motivos que os fizeram
aceitá-la como agente. Isso e a possibilidade de conseguirem traduções no
exterior.
—
Eu sempre me virei muito bem com essa coisa de negociar contratos. Acho que
para mim ela foi mais importante para conseguir publicações fora do país —
conta o carioca Marcelo Moutinho, que acaba de entrar na antologia “Book of
Rio”, da inglesa Comma Press, só com contos ambientados no Rio de Janeiro. —
Ela também faz uma tentativa de aproximar autores uns dos outros que eu acho
muito positiva.
Moutinho
está falando de outra vocação de Marianna Teixeira Soares, a de agitadora
cultural. Nos últimos tempos, ela anda organizando jantares em sua casa no
Jardim Botânico para promover encontros entre escritores — não apenas os seus
—, artistas, editores e amigos. O assunto dos jantares? Ora, literatura.
—
Quero que as pessoas se reúnam e se conheçam. Quero criar essa conexão entre os
autores da agência, porque acho que eles têm muita coisa em comum — afirma ela.
De olho em editoras independentes
Marianna
sabe que em seus jantares circula um tipo de autor que o mercado brasileiro nem
sempre valoriza. Afinal, Paulo Coelho e Luis Fernando Verissimo são os únicos
escritores brasileiros que costumam frequentar a lista de mais vendidos de
ficção — as exceções que confirmam a regra. Mas ela acredita que esse cenário
pode mudar. Ela diz que os adiantamentos vultuosos dos leilões internacionais
são uma pressão para fazer uma obra vender — daí o investimento maior na divulgação
dos livros estrangeiros, com resultado concreto nas vendas.
—
Se você faz o mesmo por um autor brasileiro, ele vai vender, sim. Talvez o
editor nacional precise se voltar mais para a nossa literatura para perceber
isso. Tem editor que nem faz catálogo brasileiro — afirma Marianna. — Para
entrar no mercado com uma operação como a das grandes editoras, com muitos
lançamentos por mês, o livro estrangeiro é mais fácil.
Enquanto
as grandes apostam pouco, a agente literária procura seus novos autores num
lugar para onde nem todos olham: as editoras independentes. Vários de seus
escritores são publicados por casas assim (Paula Fábrio, por exemplo, publicou
seu romance “Desnorteio” pela pequena Patuá). A casa de Marianna é cheia de
revistas como “Arte e letra” ou “Mapa”, todas publicações independentes, nas
quais também busca talentos.
Fonte - O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário