Quer convencer alguém a abandonar um
hábito prazeroso? Basta transformá-lo em obrigação. Nos esportes, é comum ver
amadores talentosos abandonando seus sonhos ao deparar com a rotina árdua
necessária para competir profissionalmente. No mundo da cultura ocorre algo
semelhante. Conheci aspirantes a críticos de cinema que passaram a detestar
filmes após experimentar a rotina de assistir a cinco ou seis estreias
desinteressantes semanalmente.
Talvez isso explique nossa obsessão por
games estúpidos e redes sociais: como ninguém nos obriga a passar horas jogando Candy
Crush ou navegando no Facebook, podemos gastar
nosso tempo assim por puro prazer. Se fôssemos forçados a isso, provavelmente
buscaríamos refúgio noutras atividades, como resolver o cubo mágico, elaborar
uma tese de doutorado ou descobrir a cura do câncer. Talvez até lêssemos mais
livros, se não houvesse tanta gente tentando transformar a leitura numa
obrigação.
O assunto é delicado, sobretudo no que
diz respeito às escolas. As leituras obrigatórias têm uma importância
pedagógica enorme. Os alunos precisam aprender literatura e interpretação de
textos na escola, e ler é sem dúvida a melhor maneira de fazê-lo. Dito isso,
não é difícil perceber que obrigar um aluno a ler um livro e fazer uma prova
sobre ele é uma péssima maneira de incentivar a leitura. Muitos desistem dos
livros após a formatura. Outros até voltam a ler, mas deixam de lado os autores
que a escola lhes forçou goela abaixo. É raro ver um adulto lendo Machado de
Assis, por exemplo.
A ironia refinada de um dos maiores
escritores da história do país é desperdiçada em adolescentes que leem resumos
de seus livros, decoram nomes de personagens, respondem a perguntas de
vestibular e, depois, esquecem-se dele para sempre. O lirismo de Manuel
Bandeira torna-se uma chatice insuportável quando somos obrigados a nos comover
com ele. Até o humor de Macunaímaperde toda a graça.
Felizmente há jovens que sobrevivem a esse
teste e tornam-se leitores. Alguns conseguem enxergar a genialidade desses
escritores, apesar da obrigação de ler suas obras. A maioria redescobre as
livrarias graças a autores populares. J. K. Rowling, John Green, Paulo Coelho,
Thalita Rebouças e dezenas de outros, cujos livros felizmente não entram na
lista do vestibular e podem ser lidos apenas por diversão.
Por Danilo Venticinque
Leia o texto na integra aqui!
Como sempre brilhante. Ele coloca muito bem as ideias e só aborda questões relevantes.
ResponderExcluirBjs, Isabela.
www.universodosleitores.com