Nas mãos dela, Alice
Braga caiu no choro, Wagner Moura socou a barriga de Lázaro Ramos e Stênio
Garcia perdeu os sentidos e vomitou. Figura tão polêmica quanto onipresente nos
filmes brasileiros, a preparadora de elenco Fátima Toledo lança amanhã um livro
sobre sua trajetória no cinema nacional.
Na obra, que também traz
depoimentos de atores e diretores, ela relata ao autor Maurício Cardoso
bastidores de filmes como "Cidade de Deus", "Tropa de
Elite" e "Linha de Passe" e disseca o seu controverso método.
"A pessoa tem que
se revelar para revelar o personagem, e não construí-lo", afirma Fátima.
"Se você busca só o ator, vai ter respostas muito conhecidas. Mas, se procura
o ser humano antes, encontra a sua marca pessoal, que é o que dá o
brilho."
Fátima
chegou ao cinema com "Pixote: A Lei do Mais Fraco" (1981), de Hector
Babenco. Ela dava oficinas de teatro a internos da Febem (hoje Fundação Casa)
quando foi descoberta pelo cineasta. "Uma mulher descalça, frágil, rodeada
por um grupo de adolescentes, tentava dar a eles maneiras de relaxamento",
relata Babenco no livro.
Contratada
para preparar os jovens atores do filme, tentou treiná-los com a bagagem que
trazia: métodos clássicos de interpretação, como o de Stanislavski (1863-1938).
"Olhei
para aqueles meninos e vi que faziam bem, mas não tinham vida. Não os sentia
totalmente presentes", lembra. Aos poucos, abandonou as lições do russo
para traçar a própria metodologia "de forma instintiva", diz.
Ela
resume o treinamento em três etapas: "Entender o momento da vida do ator,
seu nível de doçura, de raiva, de resistência"; fazer dinâmicas para
reproduzir as relações entre os personagens; e ensaiar cenas sem grandes
marcações e convocar o diretor para assistir a elas.
Na
segunda etapa, há o "exercício da valsa". "Duas pessoas dançam
juntas. Quando digo 'afastou', elas se separam e têm de falar coisas que vêm do
coração, se agredindo, depois se juntam de novo." Já no "exercício da
mesa", um ator se senta em silêncio enquanto os outros dizem tudo o que
pensam sobre ele.
TAPA
NA CARA
Os
métodos de Fátima ganharam notoriedade após "Cidade de Deus" e
"Tropa", que, segundo ela, deram ao treinamento a fama de violento.
"Tapa na cara? Pode ter ocorrido algumas vezes. Mas por que acham isso tão
problemático? Os filmes pediam aquilo", diz.
Fonte: Folha de São Paulo