“Nada de inteligente nos
personagens, linguagem pobre”. “Não é tão inteligente quanto ‘Orgulho e
Preconceito’, mas fiquei completamente satisfeito”. “Li cada linha com o maior
prazer e interesse e estou mais feliz com ele do que minha humilde caneta pode
expressar”.
Imagem do manuscrito “Opiniões” - Reprodução
As observações acima não
foram feitas por críticos literários importantes, mas por amigos e parentes de
Jane Austen, a respeito dos romances “Mansfield Park” (1814) e “Emma” (1815). A
autora inglesa gostava de colecionar opiniões de pessoas próximas sobre seus
próprios livros, como demonstra um manuscrito guardado pela British Library — e
recém-disponibilizado na internet.
Austen copiou diversas
citações sobre os dois romances. Algumas podem ser apenas lembranças de
conversas, outras parecem ter sido reproduzidas de cartas que recebeu. Entre os
muito elogios, há algumas ressalvas, mesmo que a maioria das observações sejam superficiais.
A maioria dos leitores admitem preferir outras obras da autora, como “Razão e
sensibilidade” e “Orgulho e preconceito”.
Vale lembrar que tanto
“Mansfield Park” quanto “Emma” receberam uma fria recepção do meio literário
quando foram lançados. Antes da obra de Austen ser redescoberta,“Mansfield
Park” atravessou o século 19 com pouquíssimas reedições.
No manuscrito guardado
pela autora, a “resenha” mais elaborada é de uma certa Mrs. Pole, que exalta a
veracidade com que Austen descreve a sociedade de seu tempo: “Há uma satisfação
especial em ler todas as obras de Miss A — elas foram tão evidentemente
escritas por uma Gentlewoman - [?] A maioria dos romancistas falha e traem-se
na tentativa de descrever cenas familiares na alta sociedade, alguns poucos
escapam e mostram que não estão familiarizados com o que descrevem, mas aqui é
bem diferente! Tudo é natural, e as situações e incidentes são contados de uma
forma que evidencia claramente o pertencimento da autora a uma sociedade cujos
costumes ela tão habilmente delineia”.
A maioria dos leitores
que citam a “naturalidade” de Austen, porém, usaram um tom crítico. Segundo a
British Library, isso reflete um debate literário dominante do final do século
XVIII e início do XIX. Por se atardar em detalhes do cotidiano, de maneira
realista, a obra de Austen teve uma difusão limitada em um período em que
romances costumavam trazer fatos e personagens exagerados.
“Na maioria dos romances
você se diverte por passar tempo com um conjunto de pessoas ideais que nunca
mais aparecerão em seus pensamentos e que você nunca espera encontrar”, escreve
uma certa Lady Gordon.
Fonte: O Globo
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