Carta inédita confirma que autor elogiava colega em público,
mas o destratava em privado
Sempre se soube que o poeta Charles
Baudelaire nutria sentimentos ambíguos em relação à seu conterrâneo, Victor
Hugo. O autor de “As flores do mal” alternava períodos de admiração sincera
pelo mestre e outros de clara negação. Ao mesmo tempo em que dedicava poemas à
Hugo, também podia criticar o lirismo interiorizado e a visão egocêntrica do
autor de “Os miseráveis”.
Agora, uma carta inédita, divulgada na
quarta pelo jornal “The Guardian”,
revela que Baudelaire também não apreciava receber correspondência de Hugo. Em
janeiro de 1860, ele escreveu a um desconhecido: “V. Hugo continua me enviando
cartas estúpidas”. O poeta ainda acrescenta: “Tudo isso me inspira tanto tédio
que me sinto disposto a escrever um ensaio provando que, por uma lei fatal, o
gênio é sempre besta”. A maior parte da missiva, porém, diz respeito a Edgar
Alan Poe, cuja obra Baudelaire traduziu para o francês.
Colocada a venda pela Christie em Nova
York junto com um exemplar da primeira edição de “As flores do mal”, o
documento apenas confirma o que os historiadores já sabiam. Em uma conhecida
carta de 1865, Baudelaire escrevia à sua mãe, Caroline Aupick: “Victor Hugo
morou algum tempo em Bruxellas e quer que eu passe algum tempo em sua ilha, me
entediou bastante, me cansou bastante. Não aceitarei nem sua glória, nem sua
fortuna, se me fosse necessário ao mesmo tempo possuir seu enorme ridículo. A
Sra Hugo é meio idiota, e seus dois filhos são grandes tolos”.
Hugo, por sua vez, sempre manifestou
admiração pelo colega mais jovem. Segundo ele, Baudelaire trazia “um novo
frisson” para a poesia. Depois do lançamento de “As flores do mal”, Baudelaire
foi julgado por “atentado à moral”, e recebeu amplo apoio de Hugo. Por outro lado,
Baudelaire elogiou publicamente “Os miseráveis” na época de seu lançamento, mas
em uma resenha de 1861 classificou o livro como “imundo e inepto”.
Fonte: O Globo
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