terça-feira, 24 de junho de 2014

O dia em que Baudelaire chamou Victor Hugo de “besta”

Carta inédita confirma que autor elogiava colega em público, mas o destratava em privado


Sempre se soube que o poeta Charles Baudelaire nutria sentimentos ambíguos em relação à seu conterrâneo, Victor Hugo. O autor de “As flores do mal” alternava períodos de admiração sincera pelo mestre e outros de clara negação. Ao mesmo tempo em que dedicava poemas à Hugo, também podia criticar o lirismo interiorizado e a visão egocêntrica do autor de “Os miseráveis”.

Agora, uma carta inédita, divulgada na quarta pelo jornal “The Guardian”, revela que Baudelaire também não apreciava receber correspondência de Hugo. Em janeiro de 1860, ele escreveu a um desconhecido: “V. Hugo continua me enviando cartas estúpidas”. O poeta ainda acrescenta: “Tudo isso me inspira tanto tédio que me sinto disposto a escrever um ensaio provando que, por uma lei fatal, o gênio é sempre besta”. A maior parte da missiva, porém, diz respeito a Edgar Alan Poe, cuja obra Baudelaire traduziu para o francês.

Colocada a venda pela Christie em Nova York junto com um exemplar da primeira edição de “As flores do mal”, o documento apenas confirma o que os historiadores já sabiam. Em uma conhecida carta de 1865, Baudelaire escrevia à sua mãe, Caroline Aupick: “Victor Hugo morou algum tempo em Bruxellas e quer que eu passe algum tempo em sua ilha, me entediou bastante, me cansou bastante. Não aceitarei nem sua glória, nem sua fortuna, se me fosse necessário ao mesmo tempo possuir seu enorme ridículo. A Sra Hugo é meio idiota, e seus dois filhos são grandes tolos”.

Hugo, por sua vez, sempre manifestou admiração pelo colega mais jovem. Segundo ele, Baudelaire trazia “um novo frisson” para a poesia. Depois do lançamento de “As flores do mal”, Baudelaire foi julgado por “atentado à moral”, e recebeu amplo apoio de Hugo. Por outro lado, Baudelaire elogiou publicamente “Os miseráveis” na época de seu lançamento, mas em uma resenha de 1861 classificou o livro como “imundo e inepto”.

Fonte: O Globo

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