terça-feira, 26 de agosto de 2014

‘Vivemos a era de ouro da ficção de crime’, diz Harlan Coben


Um dos principais best-sellers de mistério da atualidade, o americano Harlan Coben, que atraiu centenas de fãs para a Bienal do Livro de São Paulo no fim de semana, lança seu 16º romance no Brasil, “Seis anos depois”, pela Sextante.

Coben é um gigante literal e metaforicamente. Com quase 2 metros de altura, ele acaba de bater a marca de 1 milhão de livros vendidos no país. As estatísticas viraram gente, na manhã de anteontem, quando ele falou na Bienal para uma pequena multidão sobre a nova obra. Nela, o protagonista vai atrás da mulher que o deixou para casar com outro e descobre que o casamento havia sido uma farsa. Ele vai buscá-la, sem imaginar os perigos do ato. Em entrevista ao GLOBO, Harlan Coben fala da dificuldade de classificar a nova trama, conta por que não gosta de escrever histórias de serial killers e comenta as últimas polêmicas do meio literário.


Embora classificados como policiais, seus livros não têm crimes ou conspirações. Por quê?

Acho que chamam assim porque é preciso classificar o livro. “Seis anos depois” é mais uma história de amor que uma ficção de crime. Não me interesso por conspirações políticas ou serial killers. Prefiro histórias com as quais o leitor possa se identificar.

Com uma tradição tão longa, é possível manter o frescor da ficção policial?

Agatha Christie e Elmore Leonard escrevem ficção de crime e não são nada parecidos. Grandes autores tinham crimes em seus livros: Dostoiévski, Dumas, Dickens, entre outros. Mas acho que vivemos a era de ouro da ficção de crime. Ela nunca foi feita tão bem e com tanta variedade. Há autores homens, mulheres, americanos, britânicos, escandinavos... E temos que trabalhar duro para manter o frescor do gênero. Não pelo que foi escrito no passado, mas porque hoje competimos com outras mídias.

A Amazon e a editora Hachette têm brigado pelas condições comerciais de vendas de livros. Alguns autores se organizaram para apoiar a editora. Qual a sua posição nessa polêmica?

Sentar e esperar. Virei escritor porque não queria ir para um escritório, pensar em negócios, números. Sei que, quanto melhor eu escrever, melhor estarão meus livros (no mercado), porque as pessoas vão lê-los no papel, na tela ou numa tábua de pedra como a de Moisés. Não me sinto qualificado para me meter no assunto.

Hoje há o fenômeno da autopublicação. Você precisa de editor?

É isso que eu não entendo nessa polêmica. Se você quer se autopublicar, faça-o. Se você acha que os escritores estão sendo vilipendiados (pelas editoras), faça-o. Eu gosto de ter editor e não estou tentando convencer ninguém a ir para a minha editora. Não sei por que os outros se importam com quanto eu ou o Nicholas Sparks estamos cobrando pelos nossos livros. Faça seu livro e preocupe-se em como publicá-lo, não como eu publico os meus.

Você passou a escrever livros no gênero “jovens adultos”, que costuma ser criticado por falta de complexidade literária. O que você diria aos críticos?

Não leia. Tem uma resenha de um livro meu na Amazon que diz: “Esse livro deveria estar numa biblioteca de ensino médio”. Sim, deveria!

E sobre as críticas de que falta riqueza narrativa nesses livros?

Isso não faz sentido. Meu livro infantojuvenil é mais curto, mas provavelmente é mais sombrio que qualquer livro adulto que eu tenha escrito.

Você não deve mais precisar vir para eventos como a Bienal para vender livros. Por que vir?

Ajuda a vender o livro. E, se viajar é cansativo, é ótimo encontrar os leitores. Se há escritores que se sentem acima disso, só posso lamentar.

A ficção de mistério exige grande técnica. Você não comete erros?

Em um livro meu, um personagem costuma pentear o cabelo para a direita, no começo do livro, e depois para a esquerda, no fim dele. Com a internet, se você comete algo assim, você será avisado. Não gosto, mas não me preocupo muito. 

Fonte: O Globo (Matéria original aqui)

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