"Ousadia!"
"Barbaridade!" "Onde é que vamos parar?" A notícia de que a
escritora Patricia Secco vai lançar uma versão "facilitada" do conto
"O Alienista", de Machado de Assis, provocou uma onda de críticas à
autora, que submeteu ao Ministério da Cultura o projeto "Os clássicos e a
leitura", para simplificar a linguagem de clássicos da literatura
brasileira, fazendo a transposição para uma forma contemporânea.
"A ideia é distribuir os livros para
não leitores, para pessoas simples, que sequer sabem quem é Machado de Assis,
como o meu eletricista ou o porteiro do meu prédio. Quero aproximar os
clássicos dessas pessoas, não distribuir livros em escolas, para crianças.
Aliás, nem quero que os jovens leiam isso. É para um outro Brasil, para aqueles
que nunca leram e de repente querem ter a oportunidade de conhecer um
livro", explica Patrícia.
Entre os escritores, é esperado e
compreensível que muitos se declarem contra – afinal, são eles que escolhem as
palavras que vão usar em seus próprios livros –, mas no meio de tantas vozes
indignadas, há quem dê um crédito para a iniciativa da escritora.
Em sua página no
Facebook, o jornalista e escritor Ronaldo Bressane ("Mnemomáquina",
"O Impostor") se mostrou a favor do trabalho de Patrícia. "A
reforma na educação da literatura passa sim pela atualização da linguagem, mas
não só: também pela atualização do currículo, que segue desonesto, capenga e
inacessível desde a época em que eu tinha Machado na escola (e não lia, porque
Rubem Fonseca tinha mais a ver com a minha realidade). (…) É preferível que o
sujeito comece a ler através de uma adaptação bem feita de um clássico do que
seja obrigado a ler um texto ilegível e incompreensível segundo a linguagem e
os parâmetros culturais atuais. Depois que leu a adaptação, ele pode pegar o
gosto, entrar no processo de leitura e eventualmente se interessar por ler o
Machadão no original. Agora, dar uma machadada em um moleque que tem PS3, Xbox,
1000 canais a cabo e toda a internet à disposição é simplesmente burrice",
provoca.
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