Homens
com Rolex no pulso acompanhados de mulheres "vestindo" só joias e
salto alto –e nada mais. Esse era o traje de uma festa privê regada a sexo que
reuniu casais da alta sociedade de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo).
Aconteceu
no ano passado numa fazenda luxuosa da região, segundo Lola Benvenutti, 22,
codinome da garota de programa Gabriela Natalia Silva. Os detalhes da noite
estão em seu livro "O Prazer é Todo Nosso" (editora MosArte), que
será lançado em agosto.
Há
menos de dois anos, a acompanhante ficou conhecida por relatar seus encontros
com clientes em um blog que leva seu nome. Ao mesmo tempo, frequentava o último
ano da faculdade de letras na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).
O
caso lembra o da ex-garota de programa Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha, que
também relatava seus programas num blog e cuja história rendeu livro e filme.
"Era
tudo muito sofisticado. Eu já havia participado de swings, mas eram mais
modestos. Em Ribeirão, foi ostentação total", afirma. Eram 15 casais de
médicos e suas mulheres numa fazenda com diversos quartos –segundo ela, o
cenário remetia ao filme "De Olhos Bem Fechados" (1999), de Stanley
Kubrick (1928-1999).
Os
nomes de todos os "personagens" são mantidos em sigilo no livro, que
levou um ano para ficar pronto. Nele,
muito além de relatos dos programas e dicas para apimentar uma relação, a
autora defende a bandeira da liberdade sexual. "Faço o que faço porque
gosto, porque sou mulher, porque sou humana e tenho o direito de traçar o meu
próprio caminho."
Por
isso, o tom do livro é leve e as passagens, divertidas, diz ela. "O livro
é neste sentido: de se libertar para gozar a vida, o parceiro, sozinho." Foi
pelo caminho do prazer que Lola disse ter descoberto o amor por si mesma: tida
como a "patinho feio" do colégio, resolveu gostar de si.
A
primeira vez em que fez sexo por dinheiro, diz, foi aos 17, mas não continuou
–temia a repercussão em sua cidade, Pirassununga (211 km de São Paulo). "Eu
sempre tive curiosidade em saber como funciona [a prostituição]", afirma
ela, que se considera precoce no tema. "Quando era criança, colocava o Ken
e a Barbie sem roupas, um em cima do outro, e simulava o ato sexual."
Lola
diz que pretende lançar outros livros. Tem passagens literárias tatuadas pelo
corpo. Nas costas, um verso de Manuel Bandeira :"...dizer insistentemente
que fazia sol lá fora". No pulso esquerdo, uma frase João Guimarães Rosa:
"Digo: o real não está na saída nem na chegada. Ele se dispõe para a gente
é no meio da travessia". Ela tem projetos para workshops e palestras. Não
pensa em namorar. Sua descrença na monogamia, diz, é um dos motivos para ter
escolhido o atual ofício.
Ao
posar para a Folha, tentou manter uma imagem de glamour, distante do estereótipo
de uma garota de programa. "A minha proposta não é aparecer com a bunda de
fora na TV, ter 15 minutos de fama e falar que saí com jogador de
futebol", diz ela. Sem revelar valores, afirma que é possível ganhar
dinheiro com a profissão "se souber ser administrada".
Diz
ser realista e saber que a carreira é curta, principalmente porque "a
beleza acaba e gasta-se muito para estar sempre bonita". Mesmo assim, jura
que não se arrepende de ter escolhido a atual profissão. "Nunca fui tão
feliz como agora, porque sou quem realmente sou. Não tem alegria maior do que
não ter de se enganar", afirma.
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