sexta-feira, 20 de junho de 2014

Manuscrito revela como os amigos de Jane Austen viam os seus livros

“Nada de inteligente nos personagens, linguagem pobre”. “Não é tão inteligente quanto ‘Orgulho e Preconceito’, mas fiquei completamente satisfeito”. “Li cada linha com o maior prazer e interesse e estou mais feliz com ele do que minha humilde caneta pode expressar”.

Imagem do manuscrito “Opiniões” - Reprodução

As observações acima não foram feitas por críticos literários importantes, mas por amigos e parentes de Jane Austen, a respeito dos romances “Mansfield Park” (1814) e “Emma” (1815). A autora inglesa gostava de colecionar opiniões de pessoas próximas sobre seus próprios livros, como demonstra um manuscrito guardado pela British Library — e recém-disponibilizado na internet.

Austen copiou diversas citações sobre os dois romances. Algumas podem ser apenas lembranças de conversas, outras parecem ter sido reproduzidas de cartas que recebeu. Entre os muito elogios, há algumas ressalvas, mesmo que a maioria das observações sejam superficiais. A maioria dos leitores admitem preferir outras obras da autora, como “Razão e sensibilidade” e “Orgulho e preconceito”.


Vale lembrar que tanto “Mansfield Park” quanto “Emma” receberam uma fria recepção do meio literário quando foram lançados. Antes da obra de Austen ser redescoberta,“Mansfield Park” atravessou o século 19 com pouquíssimas reedições.

No manuscrito guardado pela autora, a “resenha” mais elaborada é de uma certa Mrs. Pole, que exalta a veracidade com que Austen descreve a sociedade de seu tempo: “Há uma satisfação especial em ler todas as obras de Miss A — elas foram tão evidentemente escritas por uma Gentlewoman - [?] A maioria dos romancistas falha e traem-se na tentativa de descrever cenas familiares na alta sociedade, alguns poucos escapam e mostram que não estão familiarizados com o que descrevem, mas aqui é bem diferente! Tudo é natural, e as situações e incidentes são contados de uma forma que evidencia claramente o pertencimento da autora a uma sociedade cujos costumes ela tão habilmente delineia”.

A maioria dos leitores que citam a “naturalidade” de Austen, porém, usaram um tom crítico. Segundo a British Library, isso reflete um debate literário dominante do final do século XVIII e início do XIX. Por se atardar em detalhes do cotidiano, de maneira realista, a obra de Austen teve uma difusão limitada em um período em que romances costumavam trazer fatos e personagens exagerados.

“Na maioria dos romances você se diverte por passar tempo com um conjunto de pessoas ideais que nunca mais aparecerão em seus pensamentos e que você nunca espera encontrar”, escreve uma certa Lady Gordon.

Fonte: O Globo

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