sexta-feira, 25 de abril de 2014

De Kafka a Nietzsche, grandes autores ganham adaptação para mangá

A teoria do eterno retorno, as estratégias de guerra que mudaram o curso da história e a profundidade psicológica dos personagens de Shakespeare podem caber numa história em quadrinhos. Uma coleção de mangás que está chegando às livrarias do Brasil mostra o que os clássicos – e o público – têm a ganhar com essas adaptações.


Criada pela editora japonesa East Press, a coleção Manga de Dokuha (algo como "Aprendendo com mangá"), que reúne adaptações de mais de uma centena de clássicos da literatura universal, está recebendo agora versão em português pela editora L&PM. Nesta semana, chegam às lojas A Metamorfose, de Franz Kafka (ilustração ao lado), eDo Contrato Social, de Jean-Jacques Rousseau, somando-se a outros títulos já disponíveis nas livrarias brasileiras – Assim Falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche; A Arte da Guerra, de Sun Tzu; Hamlet, de William Shakespeare; O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald; e Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels. Em 2011, a editora JBC havia editado apenas O Capital, de Marx, hoje com exemplares esgotados.

Feitos coletivamente por um estúdio contratado pela East Press, os livros não contam com créditos de roteirista ou desenhista – a única assinatura a figurar nas capas é a do autor da obra original. No entanto, não é possível dizer que as adaptações padecem de marca autoral, principalmente nos roteiros de obras filosóficas. Em Assim Falou Zaratustra, por exemplo, o contexto histórico da obra e os principais conceitos filosóficos de Nietzsche são trabalhados a partir da história do filho do pastor de uma igreja decadente que se revolta ao descobrir que foi adotado. É um enredo que não está presente no livro do autor alemão, mas serve como uma introdução à leitura.

– Uma boa adaptação precisa trazer algo novo, uma nova possibilidade de leitura do original, a preocupação de agregar elementos para o encontro com a obra original – opina Vinícius Rodrigues, professor de Ensino Médio que pesquisou o uso dos quadrinhos para ensino em sala de aula no seu mestrado em Letras pela UFRGS.

Nesse sentido, as adaptações de Hamlet e O Grande Gatsby acabam sendo o elo mais frágil da coleção. Bastante fiéis aos enredos clássicos, não trazem textos ou conteúdos capazes de dialogar com as obras que lhe deram origem. Mas a linguagem rápida e a sucessão de quadros quase cinematográfica são um sedutor convite à leitura.
O tradutor de quadrinhos Alexandre Boide, que assina a preparação dos livros, evita comparações com os originais:

– É preciso encarar essas edições como obras em quadrinhos para jovens leitores. É um bom entretenimento que traz ao leitor um pouco do universo de um clássico.

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